quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Os Lobos

Os Lobos – assim mesmo, com letra maiúscula a abrir – elevaram o râguebi português à zona mais proeminente e sumarenta dos alinhamentos noticiosos, e só quem andar muito distraído não perceberá que, hoje, eles estão de facto na moda, ou melhor, conquistaram, com bravura e sacrifício invejáveis, o direito a merecer um espaço especial, de relevo, nas primeiras páginas da actualidade. Sou, confesso, um admirador da modalidade e tiro o meu chapéu a pessoas que, com estudos, bem formadas e com qualificação profissional, são capazes de se envolver numa prática tão exigente, dura, violenta e perigosa como esta, fazendo dela – pelo menos entre nós – uma ocupação singular e desafiadora da resistência humana, que algumas mentes, se calhar, só imaginariam ao alcance de selvagens ou tresloucados. Há gostos para tudo, claro, e a diversidade de interpretação, a este nível, é mais do que legítima, mas a determinação de Tomaz Morais e do seu humilde exército é no mínimo credora de respeito geral. E a forma sentida e esmagadora como os jogadores entoaram “A Portuguesa” no “seu” primeiro jogo do “seu” Campeonato do Mundo, que decorre em França, foi… arrepiante. Com atletas naturalizados, aquela selecção portuguesa entrou na partida com a Escócia para conseguir o “seu” primeiro ensaio e conquistar a “sua” vitória, que, não sendo efectiva no resultado, foi simbolizada pela diferença no marcador, curta no entender dos especialistas internacionais, mas justa pela réplica, pela abnegação, pela coragem e, porque não, pela qualidade dos Lobos. Se o capitão Vasco Uva foi considerado o “homem do jogo”, isso não foi produto, com certeza absoluta, de um gesto de sensibilidade ou caridade dos analistas. Estes homens, que se arriscam a ser atropelados, sábado que vem, pelo camião TIR que é a superpotência Nova Zelândia, são um exemplo para os profissionais de futebol que amanhã, contra a Sérvia, terão de mostrar o que valem e justificar o favoritismo de apuramento para o Euro’2008. Assim eles também lutem “como se não houvesse amanhã”…

Por João Sanches in O JOGO

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