segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Mulheres atarefadas tratam do bacalhau, do peru, das rabanadas.
- Não esqueças o colorau, o azeite e o bolo-rei!
- Está bem, eu sei!
- E as garrafas de vinho?
- Já vão a caminho!
- Oh mãe, estou pr'a ver que prendas vou ter. Que prendas terei?
- Não sei, não sei...
Num qualquer lado, esquecido, abandonado, o Deus-Menino murmura baixinho:
- Então e Eu, toda a gente Me esqueceu?
Senta-se a família à volta da mesa. Não há sinal da cruz, nem oração ou reza. Tilintam copos e talheres. Crianças, homens e mulheres em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio, cá dentro tão quente!
Algures esquecido, ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu, toda a gente Me esqueceu?
Rasgam-se embrulhos, admiram-se as prendas, aumentam os barulhos com mais oferendas. Amontoam-se sacos e papeis sem regras nem leis.
E Cristo Menino a fazer beicinho:
- Então e Eu, toda a gente Me esqueceu?
O sono está a chegar. Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar bem-estar no coração.
A noite vai terminar e o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu, toda a gente Me esqueceu? Foi a festa do Meu Natal e, do princípio ao fim, quem se lembrou de Mim? Não tive tecto nem afecto!
Em tudo, tudo, eu medito e pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!

(João Coelho dos Santos in Lágrima do Mar - 1996)
O meu mais belo poema de Natal

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